No começo não havia separação entre o Orum, o Céu dos orixás, e o Aiê, a Terra dos humanos. Homens e divindades iam e vinham, coabitando e dividindo vidas e aventuras. Conta-se que, quando o Orum fazia limite com o Aiê, um ser humano tocou o Orum com as mãos sujas. O céu imaculado do Orixá fora conspurcado. O branco imaculado de Obatalá se perdera. Oxalá foi reclamar a Olorum. Olorum, Senhor do Céu, Deus Supremo, irado com a sujeira, o desperdício e a displicência dos mortais, soprou enfurecido seu sopro divino e separou para sempre o Céu da Terra. Assim, o Orum separou-se do mundo dos homens e nenhum homem poderia ir ao Orum e retornar de lá com vida. E os orixás também não podiam vir à Terra com seus corpos. Agora havia o mundo dos homens e o dos orixás, separados. Isoladas dos humanos habitantes do Aiê, as divindades entristeceram. Os orixás tinham saudades de suas peripécias entre os humanos e andavam tristes e amuados. Foram queixar-se com Olodumare, que acabou consentindo que os orixás pudessem vez por outra retornar à Terra. Para isso, entretanto, teriam que tomar o corpo material de seus devotos. Foi a condição imposta por Olodumare Finalmente as pequenas esposas estavam feitas, estavam prontas, e estavam odara. As iaôs eram a noivas mais bonitas que a vaidade de Oxum conseguia imaginar. Estavam prontas para os deuses. Os orixás agora tinham seus cavalos, podiam retornar com segurança ao Aiê, podiam cavalgar o corpo das devotas. Oshumanos faziam oferendas aos orixás, convidando-os à Terra, aos corpos das iaôs. Então os orixás vinham e tomavam seus cavalos. E, enquanto os homens tocavam seus tambores, vibrando os batás e agogôs, soando os xequerês e adjás, enquanto os homens cantavam e davam vivas e aplaudiam, convidando todos os humanos iniciados para a roda do xirê, os orixás dançavam e dançavam e dançavam. Os orixás podiam de novo conviver com os mortais. Os orixás estavam felizes. Na roda das feitas, no corpo das iaôs, eles dançavam e dançavam e dançavam. Estava inventado o candomblé. Por: Veronica Stigger
Depois de ter descrito os mitos afro-brasileiros para leitores adultos no mais completo volume do gênero, Mitologia dos Orixás, Reginaldo Prandi, professor de Sociologia da USP, transcreve mais uma vez (já o fizera em Os Príncipes do Destino, da Cosac & Naify) parte dessas histórias para o público infanto-juvenil. Com belas ilustrações de Pedro Rafael, Ifá, o Adivinho (Companhia das Letrinhas) conta as aventuras de alguns dos personagens que compõem o panteão dos orixás. No fim do livro, há ainda um "quem é quem" das divindades desta mitologia sincrética e fascinante.
Confira o epólogo:
Oxum, que antes gostava de vir à Terra brincar com as mulheres, dividindo com elas sua formosura e vaidade, ensinando-lhes feitiços de adorável sedução e irresistível encanto, recebeu de Olorum um novo encargo: preparar os mortais para receberem em seus corpos os orixás. Oxum fez oferendas a Exu para propiciar sua delicada missão. De seu sucesso dependia a alegria dos seus irmãos eamigos orixás.
Veio ao Aiê e juntou as mulheres à sua volta, banhou seus corpos com ervas preciosas, cortou seus cabelos, raspou suas cabeças, pintou seus corpos. Pintou suas cabeças com pintinhas brancas, como as pintas das penas da conquém, como as penas da galinha-d’angola. Vestiu-as com belíssimos panos e fartos laços, enfeitou-as com jóias e coroas. O ori, a cabeça, ela adornou ainda com a pena ecodidé, pluma vermelha, rara e misteriosa do papagaio-da-costa. Nas mãos as fez levar abebés, espadas, cetros, e nos pulsos, dúzias de dourados indés. O colo cobriu com voltas e voltas de coloridas contas e múltiplas fieiras de búzios, cerâmicas e corais. Na cabeça pôs um cone feito de manteiga de ori, finas ervas e obi mascado, com todo condimento de que gostam os orixás. Esse oxo atrairia o orixá ao ori da iniciada e o orixá não tinha como se enganar em seu retorno ao Aiê.
Dicas de literatura: Mitologia dos Orixás
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
Postado por
Unknown
às
11:49
|
Marcadores:
dicas,
lançamento,
literatura,
livro,
mitologia,
orixás,
Reginaldo Prandi,
USP

Assinar:
Postar comentários (Atom)
Pesquisar no Blog
Art. 5º ; do CAPÍTULO I, doTÍTULO II da CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.
Convite: Faça parte da redação do Jornal de Amanhã!
Bem vindo!
Para participar é simples, basta nos fornecer uma conta de email Hotmail, Gmail, Yahoo ou Ig para a qual enviaremos um link/convite, através do que voce se tornará redator, mediante cadástro no Google, do único blog que reune os comunicadores mais afinados com a notícia do Brasil.
Se voce já possue blog (de qualquer domínio), o JA ainda te dará a oportunidade dos leitores acessarem sua página pessoal ao clicar em seu nome no rodapé do seu texto. Deixe seu email no espaço destinado para recados ou envie para GAZETAGERAL@HOTMAIL.COM
Para participar é simples, basta nos fornecer uma conta de email Hotmail, Gmail, Yahoo ou Ig para a qual enviaremos um link/convite, através do que voce se tornará redator, mediante cadástro no Google, do único blog que reune os comunicadores mais afinados com a notícia do Brasil.
Se voce já possue blog (de qualquer domínio), o JA ainda te dará a oportunidade dos leitores acessarem sua página pessoal ao clicar em seu nome no rodapé do seu texto. Deixe seu email no espaço destinado para recados ou envie para GAZETAGERAL@HOTMAIL.COM
0 comentários:
Postar um comentário